Trump ameaça banir estrangeiros da Universidade de Harvard

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 Depois de suspender a liberação de US$ 2,2 bilhões em fundos federais, de ameaçar retirar a isenção fiscal da instituição e de chamar os professores de “idiotas radicais de esquerda”, o presidente dos EUA, Donald Trump, agora mira os estudantes estrangeiros da Universidade de Harvard, uma das mais prestigiosas do mundo. O republicano planeja proibir Harvard de matricular alunos de outras nacionalidades. Kristi Noem, secretária do Departamento de Segurança Interna (DHS), escreveu uma carta na qual exige da universidade os “registros detalhados das atividades ilegais e violentas dos titulares de visto de estudantes estrangeiros de Harvard”.

“Ao curvar-se ao antissemitismo — impulsionada por sua liderança covarde —, Harvard alimenta uma fossa de revoltas extremistas e ameaça a nossa segurança nacional”, declarou Noem. “Com a ideologia antiamericana e pró-Hamas envenenando seu cêmpus e salas de aula, a posição de Harvard como uma instituição de ensino superior de ponta é uma lembrança distante.” Há uma expectativa de que o Serviço de Receita Interna (IRS, o equivalente à Receita Federal) remova, a qualquer momento, a isenção fiscal de Harvard. 

Timothy Patrick McCarthy, professor de educação e presidente do corpo docente do Instituto B.R.A.V.E. da Faculdade de Educação de Harvard, afirmou ao Correio que as instituições de ensino superior estão sob risco de retaliação, caso não se submetam às “exigências coercitivas” de Trump. “Por isso, é tão importante que as instituições mais ricas e poderosas, como Harvard, se manifestem. Elas podem se dar ao luxo de fazê-lo e têm a responsabilidade de usar seu privilégio dessa forma. Instituições com menos poder e menos recursos materiais são muito mais vulneráveis a ataques, controle ou destruição total”, acrescentou. O estudioso não poupou críticas às ofensas de Trump à universidade. “Se ele está procurando por uma ‘piada’, deveria provavelmente consultar um espelho. Nada disso é tema para risada. Trump representa a maior ameaça à democracia americana e à estabilidade internacional na história moderna.” 

De acordo com McCarthy, Trump lança um ataque total ao ensino superior nos EUA. “Não existe justificativa legal ou legítima para retirar de uma universidade como Harvard o status de isenção fiscal”, disse. “As exigências descontroladas para instituições como a nossa são inconstitucionais. Pessoalmente, como membro do corpo docente de Harvard, fico feliz em ver que minha universidade está enfrentando o valentão-chefe.”

Diretora da Iniciativa de Imigração em Harvard e professora da Faculdade de Educação da universidade, Carola Suárez-Orozco classificou de “farsa” a ameaça do DHS de vetar estudantes na instituição. “A ameaça está deixando nossos estudantes estrangeiros em pânico — o fator medo nesta comunidade é palpável (como tem sido entre muitos de nossos alunos de origem imigrante). Claramente, isso não cria um contexto ideal para concentração, aprendizado ou desenvolvimento para os estudantes”, lamentou ao Correio. Ela ressaltou que a comunidade discente internacional é altamente valorizada. “Muitos estrangeiros estão entre os nossos melhores alunos e trazem rigor intelectual e perspectivas para toda a sociedade”, observou. 

Suárez-Orozco ressaltou que a isenção fiscal tem sido a pedra angular do ensino superior nos EUA. “Atacá-la é simplesmente outra estratégia para forçar Harvard a ficar de joelhos. Não tenho dúvidas de que o presidente tentará usar esse martelo contra outras instituições que deseje controlar”, disse.

McCarthy afirmou que está muito claro que o governo Trump tenta usar alegações de “antissemitismo” como arma para atacar e intimidar estudantes palestinos e aqueles que os apoiaram desde o início da guerra na Faixa de Gaza. “É uma reviravolta muito perigosa, que causa arrepios em qualquer pessoa que valorize a liberdade de expressão, o direito de protestar, a paz e a justiça”, advertiu o professor.

Contestação

Mais de 130 estudantes estrangeiros contestaram na Justiça dos EUA a revogação dos vistos de alunos universitários por parte do governofederal. A informação foi divulgada pela agência de notícias France-Presse (AFP), que teve acesso aos documentos judiciais. De acordo com a AFP, a demanda, apresentada ante uma Corte Federal da Geórgia, é direcionada à procuradora-geral, Pam Bondi, e a Kristi Noem, secretária do DHS, assim como a Todd Lyons,diretor do Serviço de Imigração e Controle de Alfândega (ICE).

“A única razão pela qual as universidades agora são consideradas ‘organizações políticas’ está no fato de o governo Trump e seus apoiadores politizarem a educação a serviço das guerras culturais tóxicas que permitiram seu retorno ao poder. Nós não escolhemos essa briga. Ele nos escolheu. Mas lutaremos. E venceremos.”

Timothy Patrick McCarthy, professor de educação e presidente do corpo docente do Instituto B.R.A.V.E. da Faculdade de Educação de Harvard

“Infelizmente, uma página do manual de governos autoritários é atacar consistentemente as instituições que impedem a verdade baseada em evidências — universidades, imprensa e tribunais. Vivemos, agora, em meio a tentativas agressivas deste governo presidencial de desfazer a estrutura democrática dos EUA.”

Carola Suárez-Orozco, diretora da Iniciativa de Imigração em Harvard e professora da Faculdade de Educação da universidade 

Correio Braziliense

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